segunda-feira, 21 de julho de 2008

Como é feita a cirurgia

A cirurgia a que fui submetido chama-se tenorrafia e consiste basicamente na sutura do tendão seccionado. Este vídeo ilustra o que é feito neste tipo de cirurgia:

O dia da cirurgia

Após o diagnóstico no Hospital de Portimão apontar a necessidade de cirurgia, estava há espera de ser operado nesse Hospital. Puro engano. O ortopedista imobilizou a parte inferior da perna, deu-me uma injecção de um anti-coagulante na barriga e tratou de solicitar a transferência para o Hospital da minha zona de residência.

Queriam enviar-me de ambulância, mas eu assinei um termo de responsabilidade e preferi vir com a minha família. Durante a viagem pensámos se seria boa ideia fazer esta cirurgia no Hospital público ou então recorrer a uma unidade privada. Dada a nossa percepção que esta cirurgia não seria muito complicada, decidimos "arriscar" pelo Hospital público.

Chegado ao Hospital da minha zona de residência, notei alguma crispação no ortopedista de serviço: pelos vistos não gostou que fosse transferido do Algarve para o seu Hospital, pois teria mais uma cirurgia para fazer. No entanto, após uns momentos iniciais de alguma tensão, lá me assegurou que iria tentar fazer a cirurgia ainda naquele dia.

Entretanto começaram as diligências normais antes da cirurgia: colocaram um cateter numa veia, tiraram sangue para análises, mediram a tensão arterial e raparam toda a zona da lesão. Todos estes procedimentos são rotineiros, mas para mim foram algo traumáticos, pois era a primeira vez que estava naquela situação.

Como não tinha ingerido nada desde a lesão, colocaram-me várias embalagens de soro. O soro rapidamente fez efeito e de repente surgiu uma enorme vontade de urinar. Foi-me fornecido um urinol de vidro, mas usá-lo revelou-se uma tarefa mais complicada do que estava há espera. O normal nervosismo da situação, aliado ao facto de estar num local cheio de pessoas complicou a tarefa. Finalmente lá consegui...

A espera pela cirurgia foi terrível. Nestas alturas é inevitável começar a pensar que algo pode correr mal, mesmo que a probabilidade seja baixa. Tentei afastar esses pensamentos, mas de vez em quando pensava no que seria dos meus filhos se algo corresse mal... foram momentos difíceis...

Finalmente lá me vieram buscar para a cirurgia. A equipa do bloco operatório foi espectacular: receberam-me com muito humor. Lembro-me da Médica anestesista dizer algo como "vamos dar-lhe já umas drogas que dão cá uma pedrada". Retorqui com algo do género: "não abusem porque senão ainda fico viciado em operações". Foi neste ambiente de boa disposição que adormeci.

Uma hora mais tarde fui acordado pelos enfermeiros. Senti uma dor forte na zona onde fui operado e deram-me analgésicos. Ainda meio sedado, arranjei forças para pegar no telemóvel e ligar à minha esposa a dizer que "estava vivo". :) ela já tinha falado com o cirurgião que lhe disse que tinha corrido tudo bem. A seguir, adormeci.

Cirurgia ou tratamento conservador ?

O ortopedista que fez o diagnóstico indicou-me que a cirurgia era absolutamente necessária para recuperar da lesão. No entanto, agora que passei vários dias na Internet a ler sobre este tipo de lesão, descobri que existe uma alternativa: o tratamento conservador.

O tratamento conservador consiste em imobilizar toda a parte inferior da perna e o pé com gesso durante várias semanas. O pé é dobrado para a frente, para facilitar a ligação do tendão e evitar tensão no tendão.

A maior vantagem do tratamento conservador é que evita a cirurgia e as eventuais complicações com a anestesia e/ou infecções pós cirúrgicas. A desvantagem é que a probabilidade de nova ruptura é superior.

Assim, os médicos geralmente sugerem a cirurgia em pacientes novos e activos, deixando o tratamento conservador para os pacientes com maior risco de infecções pós cirúrgicas (pacientes idosos, diabéticos, etc..).

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O diagnóstico

Logo após a lesão, dirigi-me às urgências do hospital de Portimão. O atendimento foi rápido e o profissional Espanhol que fez a triagem deu-me alguma (falsa) esperança. Segundo ele, poderia ser apenas uma ruptura muscular. Levei com uma pulseira amarela, que segundo o sistema de triagem de Manchester, significa uma situação urgente.

Cerca de meia hora depois fui atendido por uma Médica. Contei o que se passou e após a apalpação da zona do tendão de Aquiles as minhas esperanças desvaneceram-se, pois foi imediatamente diagnosticada uma ruptura do tendão de Aquiles. Fui então enviado para um Médico ortopedista.

O ortopedista fez também a apalpação da zona e realizou um teste, chamado teste de Thompson, que consiste em posicionar o paciente em decúbito ventral (barriga para baixo) e realizar a compressão dos músculos da parte inferior da perna com a mão. Se não houver a flexão plantar do pé ou uma grande diminuição desta, confirma-se o diagnóstico de ruptura do tendão de Aquiles.

Foi o que infelizmente aconteceu. Após o teste, o ortopedista disse-me friamente: "tem uma ruptura total do tendão de Aquiles, tem que ser operado, vai andar seis semanas com gesso e a recuperação vai durar alguns meses". Estas palavras foram um choque.

Nunca na minha vida tinha necessitado de intervenções médicas relevantes, nem sequer uma simples sutura e agora tinha que ser operado? Seis semanas com gesso? Vários meses de recuperação? Psicologicamente foi muito duro.

Eu já sabia que provavelmente tinha feito uma ruptura do tendão de Aquiles, mas não fazia a mínima ideia da gravidade deste tipo de lesão. De repente, comecei a aperceber-me do pesadelo em que a minha vida se iria transformar nos meses seguintes. Foram momentos bastante duros...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Como tudo aconteceu

Nesta primeira mensagem vou contar como fiz a lesão, mas primeiro vou enquadrá-la no meu estilo de vida: talvez isso ajude a perceber porque me aconteceu isto.

Até aos 30 anos tive sempre actividade física regular. Além do inevitável futebol, gostava muito de andar de bicicleta e jogar ténis. Em determinados períodos chegava a jogar várias horas de ténis por semana.

Entretanto, as responsabilidades profissionais e familiares limitaram cada vez mais o tempo para a prática de desporto e acabei mesmo por deixar de praticar desporto regularmente. O estilo de vida passou a ser completamente sedentário e a actividade física mais intensa passou a ser... uma caminhada de 2 Km de vez em quando. Eu tinha consciência que devia praticar desporto, mas os anos foram passando e outras tarefas mais prioritárias foram ocupando o meu tempo.

Até que chegámos ao início de Maio de 2008, quase a completar 40 anos. Fui passar esse fim de semana ao Algarve e, já que o Hotel tinha um campo de Ténis, porque não aproveitar? A ideia era boa mas cometi um erro grave: tentei correr e reagir às jogadas como fazia há 10 anos atrás.

Após mais ou menos uma hora de jogo, estava no lado direito do campo e a resposta veio para o lado esquerdo. Como os músculos estavam bem quentes e me sentia bem, fiz um arranque rápido para apanhar essa bola. De repente, senti algo a rebentar na minha perna esquerda acompanhado de um sonoro "BLOP". Sim, esta lesão provoca um som bem audível, como se fosse uma corda a rebentar.

Imediatamente caí no chão, com dores horríveis na zona inferior do músculo gastrocnémio. As dores, horríveis nos instantes logo a seguir à lesão, praticamente desapareceram passados uns 15 minutos, mas eu percebi que se tratava de uma lesão grave. Deixei de conseguir controlar o pé, pelo que desconfiei imediatamente de uma ruptura no tendão de aquiles.